5 de agosto de 2009

A Oferta Sincera do Evangelho

A Oferta Sincera do Evangelho

John H. Gerstner

Tradução: Felipe Sabino de Araújo Neto

Essa é certamente uma discussão interessante, informativa, vívida e erudita da essência do chamado do evangelho a toda a humanidade. Em minha opinião, o Professor Engelsma cuidadosamente define e convincentemente evita o "hiper-Calvinismo", além de proteger sua denominação, as Igrejas Protestantes Reformadas [Protestant Reformed Churches], de tal ensino.

O lugar do debate entre os calvinistas diz respeito ao que é chamado de "a oferta sincera". Deixe-me primeiramente explicar o que se quer dizer por "oferta sincera" e a área de diferença entre os calvinistas com respeito a ela.

Há muita coisa relacionada a esse título que é compartilhada por todos os calvinistas, embora algumas vezes com diferentes terminologias; a saber, que os réprobos ouvem o chamado e esse é um chamado "sério" para eles. Há uma parte do significado entendido pelo termo "oferta sincera" que é afirmado por muitos calvinistas hoje, e negado por outros; a saber, que Deus deseja e tenciona a salvação dos réprobos no chamado que os mesmos ouvem ou lêem.

A "oferta sincera" é entendida, por ambas as partes, como incluindo a noção de que Deus tenciona e deseja a salvação dos réprobos, quando o evangelho de Jesus Cristo é pregado a todo que ouve com seus ouvidos ou lê com seus olhos. O falecido John Murray e Ned. B. Stonehouse, no documento A Livre Oferta do Evangelho [The Free Offer of the Gospel], e a Igreja Presbiteriana Ortodoxa puderem declarar em 1948:

... há em Deus uma benignidade benevolente para com o arrependimento e salvação até mesmo daqueles a quem ele não decretou salvar. Esse prazer, vontade e desejo é expresso no chamado universal ao arrependimento... A oferta plena e livre do evangelho é uma graça concedida sobre todos. Tal graça é necessariamente uma manifestação de amor ou benignidade no coração de Deus, e essa benignidade é revelada como sendo de um caráter ou tipo que é correspondente com a graça concedida.

A graça oferecida não é nada menos que a salvação em sua riqueza e plenitude. O amor ou benignidade por detrás dessa oferta não é nada menos que a vontade para essa salvação. Em outras palavras, é Cristo em toda a glória da sua pessoa e em toda a perfeição da sua obra consumada que Deus oferece no evangelho. A vontade amorosa e benevolente que é a fonte dessa oferta e que fundamenta sua veracidade e realidade é a vontade para a possessão de Cristo e o desfrutar da salvação que reside nele (citado em Hyper-Calvinism & the Call of the Gospel, p. 43).

Eu coloquei em itálico as três declarações que, nesse contexto, podem apenas significar que Deus deseja e tenciona ("vontade" é usada com o sentido de "intento") a salvação dos réprobos. Outras coisas que são afirmadas podem ser assim interpretadas, mas não sem certa ambigüidade. Todos os calvinistas (e, de fato, todos os cristãos) concordam que nem todas as pessoas serão salvas. Arminianos são campeões em advogar a noção de que Deus deseja e tenciona a salvação de toda pessoa. Os calvinistas não, mas aqui os calvinistas John Murray, Ned. B. Stonehouse e a Igreja Presbiteriana Ortodoxa promovem tal ensino.

Por outro lado, Herman Hoeksema, a denominação Protestante Reformada e nosso autor David Engelsma neste livro, enfaticamente rejeitam a "oferta sincera" como incluindo o desejo e a intenção de Deus de salvar os réprobos.

Como um calvinista, não associado com a denominação Protestante Reformada, e divergindo nitidamente de algumas das suas posições doutrinárias, sinto ser absolutamente necessário concordar com ela aqui, onde a mesma permanece quase sozinha hoje e sofre a vituperação massiva e a ridicularização de calvinistas (não menos que nós!) por sua fidelidade nesse ponto ao evangelho de Deus.

Eu tive o privilégio incomparável de ser um estudante dos Professores Murray e Stonehouse. Com lágrimas no meu coração, afirmo confiantemente que eles erraram profundamente no documento A Livre Oferta do Evangelho e morreram antes de perceber o seu erro, o qual, por causa da alta reputação justificada que possuem pela excelência Reformada em geral, ainda causa prejuízo incalculável à causa de Jesus Cristo e à proclamação do seu evangelho.

É absolutamente essencial à natureza do único Deus verdadeiro e de Jesus Cristo, a quem ele enviou, que tudo que a Majestade soberana deseje ou intente aconteça com a mais plena certeza – sem concebilidade de fracasso nem sequer num jota! Soli Deo Gloria! Amém e amém para todo sempre! Deus nunca poderá sequer desejar ou intentar algo que não aconteça, ou ele não será o Deus vivo e feliz de Abraão, Isaque e Jacó, mas um ser eternamente miserável, que derrama lágrimas de frustração por não ser capaz de impedir o inferno e nunca poder acabar com o mesmo, destruindo assim a si mesmo e o céu no processo.

Deus, o "bendito e único Soberano, o Rei dos reis e Senhor dos senhores; o único que possui imortalidade, que habita em luz inacessível, a quem homem algum jamais viu, nem é capaz de ver. A ele honra e poder eterno. Amém!" (1Tm. 6:15,16).

John H. Gerstner
Ligonier, PA