9 de fevereiro de 2014

O declínio da pregação e a decadência da igreja

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Por Pr. Judiclay Santos

No dia 18 de janeiro de 1548, na Cathedral of Saint Paul, no coração de Londres, um dos mais notáveis reformadores ingleses pregou uma poderosa mensagem que ecoa através dos séculos. O Sermão do Arado, pregado por Hugh Latimer, é uma trombeta do céu que ressoa sobre a igreja e exorta os pregadores.

“Quem dera nossos prelados fossem tão diligentes para semear os grãos de trigo da sã doutrina quanto satanás o é para semear as ervas daninhas e o joio! Onde o diabo está em residência e está com o seu arado em andamento, ali: fora os livros e vivam as velas!; fora as Bíblias e vivam os rosários!; fora a luz do evangelho e viva a luz das velas – até mesmo ao meio dia!; [...] vivam as tradições e as leis dos homens!; abaixo as tradições de Deus e sua santíssima Palavra[...]"[1]

A dura crítica de Latimer é verdadeira, consistente e terrivelmente atual. É impressionante considerar que a realidade da igreja na Inglaterra em meados do século 16 é muito similar à realidade da igreja no Brasil, no século 21. A situação nas igrejas cristãs, salvo as honrosas e raras exceções, é de extrema pobreza e mediocridade nos púlpitos. Dominicalmente são oferecidos sermões mortos, pregações vazias, discursos inócuos, preleções insossas. A igreja tem sido submetida a uma dieta terrível: uma sopa rala que não nutre a fé. Existe um contingente expressivo de pessoas sem maturidade e estatura espiritual, e Igrejas cheias de pessoas vazias. Há muita gente sofrendo o processo de infantilização por falta da pregação da Palavra.

Uma leitura cuidadosa da História cristã mostrará que existe uma estreita relação entre a pregação da Palavra e a vida da igreja. Todas as vezes que a pregação do evangelho floresce seu impacto se torna evidente na vitalidade da igreja e na subsequente transformação da cultura.

Se alguém gastasse uma semana lendo toda a Bíblia e, na semana seguinte, se familiarizasse com os principais acontecimentos da história da igreja, o que observaria? Que a obra de Deus no mundo e a pregação estão intimamente ligadas. Onde Deus age, ali a pregação floresce. Em todos os lugares em que a pregação é menosprezada ou está ausente, ali a causa de Deus passa por um tempo de improdutividade. O Reino de Deus e a pregação são irmãos siameses que não podem ser separados. Juntos, eles permanecem de pé ou caem.[2]

A igreja brasileira sofre por causa do declínio da pregação. A falência dos púlpitos é uma tragédia para o povo de Deus. Existem muitos palradores, mas poucos pregadores. Há uma enorme carência de homens que preguem o evangelho das insondáveis riquezas de Cristo.[3] Via de regra, o que se tem visto, de norte a sul do Brasil, são homens superficiais que oferecem um tipo de “alimento” incapaz de nutrir a fé. Boa parte dos cristãos não sabe o que significa o evangelho. Muitos não conhecem as verdades elementares da fé cristã. As implicações desta triste realidade são avassaladoras. O cenário evangélico brasileiro é constituído de igrejas teologicamente confusas, moralmente frouxas, socialmente inoperantes e espiritualmente decadentes.

I. Os resultados do fracasso da pregação na vida da igreja.

1) Empobrecimento do culto cristão.

Na estrutura do culto cristão, a exposição bíblica é o principal ato de adoração. Culto público de adoração sem a pregação do evangelho não é apenas pobre, é falso. “O que vemos hoje é a marginalização do púlpito. Há uma percepção de que o púlpito é apenas um móvel decorativo no santuário e que alguém tem que usá-lo para alguma coisa”.[4] É triste e lamentável constatar a pobreza dos cultos. A falta de pregação bíblica e a quantidade de cânticos medíocres na musicalidade e heréticos no conteúdo é um escândalo. Quando a pregação não ocupa o centro no culto cristão e a Palavra perde a devida primazia na vida da igreja prevalecem o subjetivismo, o antropocentrismo, o sensacionalismo, o paganismo e todo tipo de excentricidades. Tais coisas, por sua natureza, não glorificam a Deus e não edificam a igreja de Jesus Cristo.  

2) Desfibramento moral da igreja. 

Se a pregação é o principal meio de graça, através do qual a igreja é santificada pela ação do Espírito Santo, onde não há pregação do evangelho a corrupção do coração é potencializada e se manifesta com maior força. Existem contundentes evidências da falta de integridade moral por parte de muitas pessoas que confessam ser cristãs. Valores e práticas incompatíveis com a Palavra de Deus se tornaram comuns no arraial evangélico. Se o profeta Oséias pregasse para essa geração de cristãos no Brasil, sua mensagem seria: “Volta, ó Israel, para o Senhor, teu Deus, porque, pelos teus pecados, estás caído”.[5] A exortação do Cristo ressurreto à igreja em Sardes é bem adequada à igreja brasileira: “... não tenho achado íntegras as tuas obras na presença do meu Deus”.[6] Uma das razões pelas quais a igreja padece de fraqueza moral é porque “há uma tendência dos púlpitos modernos a propagar uma mensagem que informa, mas não transforma, que diverte mas não converte” (Abgel).

3) Confusão doutrinária no seio da igreja. 

João Calvino, grande teólogo e experiente pastor, afirmou que “a ignorância é mãe de todas as heresias”. Onde a verdade é negligenciada floresce o erro. O Brasil, conhecido por sua cultura mística de profundas raízes no paganismo, é terreno fértil para a proliferação de ensinos errados. As matizes, quer seja, a pajelança indígena, os  ídolos do catolicismo romano, os rituais afro-ameríndios, o kardecismo anglo-saxão ou as seitas “evangélicas”, conspiram contra o genuíno evangelho. Nesse cenário de múltiplas divindades, variados cultos e tantos credos, o enfraquecimento do magistério da Palavra e a negligência da pregação tornam a igreja vulnerável e criam o ambiente para o sincretismo. Não seria essa a triste realidade da igreja evangélica no Brasil?

4) Decadência espiritual.

Um púlpito fraco é a maior tragédia da igreja. Spurgeon estava certo ao afirmar que “o mais maligno servo de Satanás que conheço é o ministro infiel do evangelho”.[7] O fracasso da pregação é a causa primária da miséria espiritual da igreja. Sempre que a igreja é transformada em teatro da fé, o púlpito em vitrine de vaidades, o culto em serviço de entretenimento e o pastor em animador de auditório, a decadência espiritual é inevitável. À luz das Escrituras, a falta de santidade, devoção, misericórdia, sabedoria, compaixão, fervor, piedade, vida e amor são evidências do declínio espiritual. A igreja tem dado sinais de fraqueza espiritual e existem algumas razões pelas quais isso acontece. O notável João Crisóstomo indica uma delas. "Quando você vir uma árvore cujas folhas estejam secas e murchas, algo de errado está acontecendo com as suas raízes; quando você vir um povo indisciplinado, sem dúvida, os seus sacerdotes não são santos".[8] A igreja que tolera um pastor negligente no ministério da pregação comete suicídio. 

II. Fatores contribuintes para o declínio da pregação.

O declínio não foi súbito, mas gradual. Um estudo criterioso apontará as razões pelas quais a glória da pregação ter sido apagada. O renomado Dr. Albert Mohler[9] aponta alguns elementos significativos, dentre os quais, destacamos três:

1) A pregação contemporânea sofre de perda na confiança no poder da Palavra.

Muitos pregadores não creem na autoridade da Bíblia como Palavra de Deus. É impressionante constatar a quantidade de pastores que deveriam nutrir a fé da igreja a partir da pregação da Palavra, mas não o fazem porque não confiam que de fato a Bíblia é a Palavra de Deus. Se um homem nega a inspiração, autoridade e suficiência da Escritura, ele não está qualificado para pregar.  

2) A pregação contemporânea sofre de obsessão por tecnologia.

Vivemos em uma sociedade de forte apelo audiovisual. O emprego de novas tecnologias não deve ser descartado, mas avaliado criteriosamente. O risco não é usar esses recursos, mas se tornar escravo deles. Um pastor não pode gastar mais tempos preparando slides para apresentar o seu sermão do que estudando o texto bíblico e orando diante de Deus, por si e pelos seus ouvintes. Como bem observou o dr. Moller, Deus decidiu ser ouvido e não visto. 

3) A pregação contemporânea sofre de focalização em necessidades sentidas.

A principal necessidade do ser humano é a paz com Deus por meio de Cristo. Desconsiderar essa verdade torna o púlpito um centro de aconselhamento para tratar realização profissional, saúde financeira e relacionamentos interpessoais. A psicologização do púlpito é uma triste realidade no cenário evangélico brasileiro. Enquanto os pregadores gastam tempo falando sobre os sete passos para melhorar o casamento, muitos casais nada sabem sobre o que significa o texto: “Maridos, amai vossa mulher, como também Cristo amou a igreja e a si mesmo se entregou por ela”.[10]

O pastor moderno precisa voltar-se para o estudo profundo das Escrituras e para a pregação expositiva da revelação divina. Pequenos sermões tópicos, carregados de ilustrações sentimentais, que se ouvem nos púlpitos, [...] não satisfazem as mais profundas necessidades espirituais dos ouvintes”.[11]

Felizes são as igrejas cujos pastores pregam a Palavra de Deus. A história testemunha que as igrejas que mais crescem espiritualmente são aquelas que valorizam a pregação. Enquanto o púlpito não ocupar a primazia no culto não haverá edificação.

III. Encorajamento aos pregadores.

A Reforma Protestante, a despeito de todas as acusações de seus detratores, deixou um glorioso legado para o cristianismo, o resgate da pregação pública da Palavra de Deus. Os reformadores não inventaram a pregação, mas certamente lutaram para que ocupasse a primazia no culto cristão. Eles exortavam os que estavam sob a sua liderança  a buscar excelência na pregação da Palavra.  John Owen declarou que “o primeiro e principal dever de um pastor é alimentar o rebanho pela pregação diligente da Palavra”. Para tanto, eles tinham um pressuposto e uma motivação. Primeiro, eles entendiam que a pregação da Palavra de Deus é “um meio de graça indispensável e sinal infalível da verdadeira igreja” (Calvino). Segundo, a incansável luta desses gigantes da fé tinha como alvo a glória de Deus. Sendo essa a motivação primária para subir ao púlpito e anunciar o evangelho da graça. Deus é glorificado quando a igreja é edificada, e isso acontece através da diligente e fiel pregação da Palavra.

Martin Lloyd-Jones disse que a pregação é a tarefa mais importante do mundo. Calvino entendia que o púlpito é o trono de onde Deus governa a sua igreja. A reforma da igreja começa no púlpito da igreja. “O avivamento da igreja acontece quando se acende uma fogueira no púlpito”. (D. W. Moody).

Uma palavra de encorajamento.

1) Pregue a palavra.

Conjuro-te, perante Deus e Cristo Jesus, que há de julgar vivos e mortos, pela sua manifestação e pelo seu reino: prega a palavra, insta, quer seja oportuno, quer não, corrige, repreende, exorta com toda a longanimidade e doutrina.[12]

Uma grande honra é sempre acompanhada de uma grande responsabilidade. A exortação de Alexander Wyte é muito oportuna: “Nunca pense em abrir mão da pregação! Os anjos em derredor do trono invejam sua grandiosa obra.” 

2) Estude exaustivamente o texto.

Sem disciplina nos estudos não é possível pregar com excelência. “Pregação que não custa nada não vale nada”, exortava John Henry Jowett. O pastor deve dedicar-se aos estudos e a preparação do sermão. Alguém sugeriu que para cada minuto de pregação o pregador deveria investir uma hora de preparação. Pode parecer muito, ou até mesmo impraticável, mas o ponto é que o preparo é fundamental. Segundo Spurgeon, o príncipe dos pregadores, “aquele que cessa de aprender cessa de ensinar. Aquele que não semeia nos estudos não colhe no púlpito”. 

3) Crie pontes entre o mundo bíblico e o contemporâneo.

Não torne a sua pregação uma coisa enfadonha e sem sentido. Conheça a Escritura, mas também o povo para o qual você prega. Mostre as pessoas a conexão entre o texto bíblico e a vida delas. Use ilustrações vivas e verdadeiras. Uma boa ilustração é como janelas em uma casa, iluminam e arejam o ambiente. A viva e eficaz Palavra de Deus precisa ser comunicada com clareza, a fim de que haja uma correta aplicação para os ouvintes. 

4) Seja humilde: você depende da graça de Deus.

Certo pregador subiu ao púlpito cheio de confiança em si mesmo. Foi um completo fracasso. Então alguém lhe disse: Se você subisse como desceu (humilde) teria descido como subiu (confiante). A humildade é uma virtude que faz toda diferença na vida do pregador. Os talentos não são suficientes. Para obter a bênção de Deus no exercício da pregação é necessário suplantar a soberba e pregar na completa dependência do Senhor. McCheyne acertou ao dizer que “não é tanto os talentos o que Deus abençoa, mas uma grande semelhança com Jesus. Um ministro de vida santa é uma tremenda arma nas mãos de Deus”.[13]

5) Ore invocando a presença do Espírito Santo.

Sermões áridos e sem vida matam a igreja. O que torna um sermão uma pregação é o poder do Espírito. “A pregação é lógica em fogo” (Lloyd Jones). Todo pregador deve buscar a unção do Espírito, sem o qual os frutos são impossíveis. Em uma época de aguda fraqueza espiritual nos púlpitos, acompanhada de inúmeras conversões fabricadas pela manipulação das emoções humanas, todo pregador deveria levar em consideração as palavras do apóstolo Paulo, um dos maiores pregadores da história do cristianismo: “porque o nosso evangelho não chegou até vós tão-somente em palavra, mas, sobretudo, em poder, no Espírito Santo e em plena convicção, assim como sabeis ter sido o nosso procedimento entre vós e por amor de vós”.[14]

Em suma, sem pregação bíblica, proclamada no poder do Espírito Santo, não há esperança para a igreja brasileira. Deus tenha misericórdia de nós.

* Texto publicano no site da Edições Vida Nova (Teologia Brasileira)
__________________________________

[1] LATIMER, Hugh. Citado por STOTT, John. Eu Creio na Pregação. Vida: São Paulo, 2001, pp. 27-28.
[2] OLYOTT, Stuart. Pregação Pura e Simples. Fiel: SJC, 2008, p. 23.
[3] Efésios 3.8.
[4] MOHLER, Albert. Apascenta o meu rebanho. Cultura Cristã: São Paulo, 2009, p. 25.
[5] Oséias 14.1.
[6] Apocalipse 3.2.
[7] SPURGEON, Charles H. O Ministério Ideal, Vl 2. PES: São Paulo, 1990, p. 65.
[8] CRISÓSTOMO, In: Homilias sobre o Evangelho de Mateus (38), citado por SPENER Filipe Jacob, Pia Desideria, p. 26.
[9] MOHLER, Albert. Deus não está em silêncio. Fiel: São José dos Campos, 2011, pp. 22-28.
[10] Efésios 5.25.
[11] CRABTREE. A Doutrina Bíblica do Ministério Pastoral. Rio de Janeiro: Juerp, 1981, p. 81.
[12] 2 Timóteo 4.1-2.
[13] MCCHEYNE, Robert M. Citado por STOTT, John. O perfil do pregador. São Paulo Vida Nova, 2005, p. 114.
[14] 1 Tessalonicenses 1.5.

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Fonte: Blog do autor; Texto publicano no site da Edições Vida Nova (Teologia Brasileira)

16 de dezembro de 2009

REFLEXÕES PARA O ANO NOVO

REFLEXÕES PARA O ANO NOVO
AUTOR : C H SPURGEON

Ora, irmãos, com respeito ao ano que se aproxima, eu espero que ele seja um
ano de felicidade para vocês, — de forma muito enfática desejo a todos vocês um
Feliz Ano Novo, — mas ninguém pode ter certeza de que ele será um ano livre de
dificuldades.
Pelo contrário, tenha a segura confiança de que não será assim, porque, como
é certo que as faíscas sobem para o alto, o homem nasce para as dificuldades.
Cada um de nós possui, amados amigos, muitos rostos queridos com os quais
nos regozijamos — que eles possam sorrir para nós ainda por muito tempo: mas
lembre-se de que cada um deles pode vir a ser ocasião de tristeza durante o próximo
ano, porque não existe nenhum filho imortal, nenhum marido imortal, nenhuma
esposa imortal, nenhum amigo imortal, e, portanto, alguns deles podem morrer
durante o ano.
Além do mais, os confortos com os quais nos cercamos podem tomar para si
asas antes que o ano cumpra seus meses. As alegrias terrenas são todas como que
feitas de neve, se desfazem com a mais leve brisa, e se vão antes de terminarmos de
agradecer sua chegada. Pode ser que você tenha um ano de seca e escassez de pão;
pode ser que anos magros e desagradáveis lhe estejam reservados.
Sim, e ainda mais, talvez durante o ano que já está quase amanhecendo você
possa recolher seus pés à cama e morrer, para encontrar-se com Deus Pai.
Pois bem, com relação a este ano que está próximo e suas possibilidades
desoladoras, devemos viver cabisbaixos e tristonhos? Devemos pedir a morte ou
desejar nunca ter nascido? De modo algum. Devemos, por outro lado, viver de
forma despreocupada e risonha em todas as circunstâncias? Não, isso soaria doentio
nos filhos de Deus.
O que faremos? Iremos pronunciar esta oração: “Pai, glorifica teu nome.”
Isto significa dizer: se devo perder minha propriedade, glorifica teu nome na minha pobreza; se devo ser roubado, glorifica teu nome em meu sofrimento; se devo ser
morto, glorifica teu nome em minha partida.
Quando você ora nesta disposição, seu conflito finda, nenhum pavor exterior
permanece se tal oração surge de seu íntimo, você tem nela rejeitado todos os
presságios fatídicos e pode, de forma lúcida e tranqüila, trilhar seu caminho pelo
desconhecido amanhã.


Tradução: Márcio Santana Sobrinho.
Fonte: A Golden Prayer, 30 de dezembro de 1877.
M one r gi sm o.c om – “A o S e nhor p er t e nce a s al v a çã o” (Jona s 2:9 )
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15 de dezembro de 2009

O Primeiro Coral de Natal

O Primeiro Coral de Natal
(The First Christmas Carol)

Um Sermão (Nº 168)

Pregado na Manhã de Domingo, 20 de Dezembro de 1857 pelo

Reverendo C. H. Spurgeon

No Music Hall, Royal Surrey Gardens – Inglaterra

Glória a Deus nas alturas, Paz na terra, boa vontade para com os homens”. (Lucas 2:14)

É SUPERTICIOSO adorar anjos; mas é correto amá-los. Embora isto possa ser um grande pecado e um ato de contravenção contra a Soberana Corte do Céu, pagar a menor adoração ao mais poderoso anjo, todavia pode ser mau e inadequado, se nós não dermos aos santos anjos um lugar em nossos corações. De fato, aquele que contempla o caráter dos anjos, e percebe seus vários atos de simpatia para com os homens, e bondade para com eles, não pode resistir o impulso de sua natureza – o impulso de amor para com eles. O único incidente na história angelical, sobre o qual nosso texto se refere, é suficiente para unir nossos corações a eles para sempre. Quão libertos de inveja os anjos são ! Cristo não veio do céu para salvar seus companheiros quando eles caíram. Quando Satanás, o mais poderoso anjo, arrastou com ele uma terça parte das estrelas do céu, Cristo não Se inclinou do Seu trono para morrer por eles; mas deixou-os para serem reservados na escuridão e em prisões eternas até o último grande dia. Contudo, os anjos não invejaram os homens. Embora eles lembrassem que Ele não tomou os anjos, todavia não murmuraram quando Ele tomou a descendência de Abraão; e embora o bendito Mestre nunca tenha condescendido para tomar a forma dos anjos, eles não pensaram nisso impedindo-os de expressar sua alegria quando encontraram-Lo vestido no corpo de um infante. Quão livres, também, eles foram do orgulho ! Eles não se envergonharam de vir e contar as boas novas aos humildes pastores. Creio que eles tinham tanto prazer em emanar suas melodias aquela noite diante dos pastores, que estavam vigiando seus rebanhos, como ele teriam se tivessem sido ordenados pelo seu Mestre para cantar seu hino nos átrios de César. Meros homens – homens possessos de orgulho, pensam ser uma coisa fina pregar diante de reis e príncipes; e pensam ser uma grande complacência de vez em quando ter que ministrar à humilde multidão. Não são assim os anjos. Eles esticaram suas desejosas asas, e com satisfação moveram-se de seus brilhantes assentos acima, para contar aos pastores no campo à noite, a maravilhosa história de um Deus Encarnado. E notem quão bem eles contaram a história, e certamente vocês irão amá-los ! Não com uma língua gaguejante, que conta um conto no qual ela não tem interesse; nem mesmo com o dissimulado interesse de um homem que move as paixões dos outros, quando ele mesmo não sente nenhuma emoção; mas com alegria e satisfação, como somente os anjos podem saber. Ele cantaram a história, porque eles não poderiam esperar para contar em uma pesada prosa. Eles cantaram: “Glória a Deus nas alturas, Paz na terra, boa vontade para com os homens”. Creio que eles cantaram isso com alegria em seus olhos; com seus corações queimando com amor, e com os peitos cheios de alegria como se as boas novas para o homem tivessem sido boas novas para eles mesmos. E, verdadeiramente, eram boas novas para eles, porque o coração de simpatia faz das boas novas aos outros, boas novas para eles mesmos. Vocês não amam os anjos ? Vocês não se curvam diante deles, e aí vocês estão certos; mas vocês não os amam ? Fazer isto não faz uma parte de sua antecipação do céu, visto que no céu vocês habitarão com os santos anjos, bem com os espíritos dos justos aperfeiçoados ? Oh, quão doce pensar que aqueles santos e amáveis seres são nossos guardiões toda hora ! Eles observam com vigilância assídua sobre nós, tanto na ardente maré do meio-dia, como na escuridão da noite. Eles nos guardam em todos nossos caminhos; eles nos sustentam nas suas mãos, para que não tropecemos com nossos pés em pedras. Eles incessantemente ministram em favor daqueles que sãos os herdeiros da salvação; tanto de dia como de noite eles são nossos vigias e guardiões, porque vocês sabem que “o anjo do SENHOR acampa-se ao redor dos que o temem, e os livra”.

Deixemos de lado, tendo justamente pensado sobre os anjos por um momento, para pensar mais sobre esta canção, do que sobre os anjos em si mesmos. A canção deles foi curta, porém, como Kitto de forma excelente observa, ela foi “digna de anjos, expressando a maior e mais benditas verdades, em tão poucas palavras, que elas tornaram-se uma aguda apreensão, quase opressiva pela abundante plenitude de seu significado.” “Glória a Deus nas alturas, Paz na terra, boa vontade para com os homens.” Iremos, esperando sermos assistidos pelo Espírito Santo, olhar para estas palavras dos anjos em quatro partes. Sugerirei alguns pensamentos instrutivos levantados sobre estas palavras; então alguns pensamentos emocionais; então um poucos pensamentos proféticos; e depois, um ou dois pensamentos preceptivos.

I . Primeiro então, nas palavras de nosso texto. Há muitos PENSAMENTOS INSTRUTIVOS .

Os anjos cantaram algo que os homens puderam entender – algo que os homens deviam entender – algo que faria os homens muito melhores se eles o entendessem. Os anjos estavam cantando sobre Jesus que nasceu em uma manjedoura. Nós devemos olhar sobre esta canção como sendo construída sobre este fundamento. Ele cantaram sobre Cristo, e a salvação que Ele trouxe para este mundo para desenvolver. E o que eles disseram desta salvação foi isto: eles disseram, primeiro, que isto deu glória a Deus; segundo, que isto deu paz aos homens; e, terceiro, que isto foi uma prova da boa vontade de Deus para com a raça humana.

1. Primeiro, eles disseram que esta salvação deu glória a Deus. Eles estiveram presentes em augustas ocasiões, e tinham tomado parte em muitos solenes coros em louvor a seu Criador Todo-Poderoso. Eles estavam presentes na criação: “Quando as estrelas da alva juntas alegremente cantavam, e todos os filhos de Deus jubilavam” (Jó 38:7).

Eles viram formar-se a multidão de planetas na palma da mão de Jeová, e serem por Sua eternas mãos lançados na infinitude do espaço. Haviam entoado solenes melodias sobre numerosos mundos criados pelo Todo-Poderoso. Haviam cantado, não duvidamos, com freqüência: “Louvor, e glória, e sabedoria, e ação de graças, e honra, e poder, e força ao nosso Deus, para todo o sempre.” (Apocalipse 7:12) Não duvido, também, que seu canto foi acumulando força durante o transcurso das eras. Como quando foram primeiramente criados, sua primeira respiração foi um canto, assim quando eles viram Deus criar novos mundos, então sua canção recebeu outra nota; se foram elevando em escada da adoração. Porém, esta vez, ao ver Deus descer de Seu trono, e tornar-se um bebê, repousando no seio de uma mulher, elevaram ainda mais a nota; e chegando ao extremo limite da música angelical, entoaram as notas mais sublimes da escala divina das adorações e cantaram: “Glória a Deus nas alturas”, porque sentiram que à maior altura não se pode chegar, nem ainda a própria bondade divina. Assim, o tributo de sua adoração mais sublime se rendeu ao ato mais sublime da divindade.

Se é verdade que existe diferentes categorias de anjos, elevando-se por grau sua magnificência e dignidade – se o apóstolo nos ensina que há “anjos, tronos, dominações, principados e potestades”, entre este habitantes benditos do mundo superior e invisível, posso supor que quando a notícia primeiro se comunicou aos anjos nos confins do mundo celestial, quando miravam desde o céu e viram ao menino recém-nascido, eles enviaram as novas de volta ao lugar onde se originou o milagre, cantando:

“Anjos, seres celestes do reino de glória,
Para terra, velozes, desçam voando,
Vós, que cantais a história da criação,
Agora proclamar o nascimento do Messias;
Vinde e adoremos,
Adoremos Cristo, o recém-nascido Rei.”

E conforme a mensagem corria de categoria a categoria, até os anjos da presença, aqueles quatro querubins que perpetuamente servem ao redor do trono de Deus – aquelas rodas com olhos - colheram a melodia e resumindo o canto de todos os graus inferiores, sobrepujaram o divino pináculo de harmonia com seu próprio e solene canto de adoração, ao que prorrompeu todo o exército: “Adorai, céu dos céus: Glória a Deus nas alturas.” Ah ! Não há mortal capaz de imaginar a magnificência daquele canto. Então, notem que, embora os anjos cantassem antes e quando o mundo se formou, seus aleluias foram mais cheios, mais potentes, mais magníficos, se não mais cordiais, quando eles viram Jesus Cristo nascido da virgem Maria, para ser o Redentor do homem: “Glória a Deus nas alturas.”

Qual é a lição instrutiva para ser aprendida desta primeira sílaba do cântico dos anjos ? Naturalmente esta: que a salvação é a maior glória de Deus. Ele é glorificado por cada gota de orvalho que brilha ao primeiro raio de sol. Ele é magnificado em cada flor que floresce no bosque, ainda que viva oculta e ostente suas cores fora da vista humana, e desperdice sua doçura no ar da floresta. Deus é glorificado em cada pássaro que gorjea no ramo; em cada cordeirinho que salta no prado. Não Lhe louva os peixes do mar, desde o minúsculo peixinho até o enorme Leviatã ? Não bendiz e louva Seu nome todas as criaturas que nadam sobre as águas ? Não Lhe exaltam todas as coisas criadas ? Há algo debaixo do céu, exceto o homem, que não glorifique a Deus ? Não Lhe exaltam as estrelas ao escrever com letras de ouro Seu nome sobre o azul-celeste do céu ? Não Lhe adoram os relâmpagos quando refletem seu esplendor em setas de luz, penetrando a escuridão da meia-noite ? Não Lhe exaltam os trovões quando estrondam como tambores à marcha do Deus dos exércitos ? Não lhe exaltam todas as coisas, desde as mais pequenas até as mais grandes ? Canta, canta, oh universo, até tu esgotar a ti mesmo; porém jamais tu poderá oferecer um canto tão doce como o canto da Encarnação ! Ainda que toda a criação seja como um órgão majestoso de louvor, não poderá expressar jamais o conteúdo do cântico dourado – Encarnação ! Há mais nela do que na encarnação, mais melodia em Jesus na manjedoura, do que nos mundos sobre mundos girando sua grandeza ao redor do trono do Altíssimo.

Pare Cristão, e considere isto por um minuto. Veja de que forma cada atributo é aqui magnificado. Olhe ! que sabedoria aqui. Deus tornou-se homem para que Deus possa ser justo, e justificar do ímpio. Olhe! que poder, porque onde há poder tão grande como quando se oculta o poder ? Olhe! Que poder, que a Divindade se despojou de Si mesma e tornou-se homem. Contemplai vós, que fidelidade ! Quantas promessas se cumprem neste dia ? Quantas solenes obrigações são nesta hora perdoadas ? Conte-me um atributo de Deus que não seja manifesto em Jesus; e sua ignorância será a razão porque você não tem visto assim. O todo de Deus é glorificado em Cristo; e embora alguma parte do nome de Deus esteja escrita no universo, é aqui que ele é melhor lido – nAquele que foi o Filho do Homem, e todavia, o Filho de Deus.

Mas, deixe-me dizer uma palavra aqui antes de afastar-me deste ponto. Devemos aprender disto que, se a salvação glorifica a Deus, O glorifica no mais alto grau, e faz que as criaturas superiores O louvem, esta única reflexão deve ser adicionada – então, aquela doutrina, que glorifica o homem na salvação não pode ser o evangelho. Porque salvação glorifica a Deus. Os anjos não eram Arminianos, eles cantaram: “Glória a Deus nas alturas.” Eles crêem não na doutrina que tira a coroa de Cristo, e a coloca nas cabeças de mortais. Eles crêem não em um sistema de fé que faz a salvação depender da criatura, e, que realmente dá à criatura o louvor, porque o que é menor do que para um homem salvar a si mesmo, se a inteira dependência da salvação descansa sobre seu próprio livre-arbítrio ? Não, meus irmãos; pode haver alguns pregadores, que se deleitam em pregar a doutrina que magnifica o homem; mas em seu evangelho os anjos não têm deleite. As únicas boas novas que fizeram os anjos cantar, são aquelas que colocam Deus no princípio, Deus no fim, Deus no meio, e Deus sem fim, na salvação de Suas criaturas, e coloca a coroa intera e exclusivamente sobre a cabeça dAquele que salva sem um ajudante.

“Glória a Deus nas alturas”, é o cântico dos anjos.


2. Quando eles cantaram isto, cantaram o que nunca haviam cantado antes. “Glória a Deus nas alturas” era um velho, velho cântico; eles haviam cantado isso desde antes da fundação do mundo. Porém, agora, cantavam como se este fosse um novo cântico diante do trono de Deus: porque eles acrescentaram esta estrofe: “Paz na terra” . Eles não cantaram isto no jardim. Havia paz lá, porém esta parecia uma coisa natural, e escassamente digna de cântico. Havia mais do que paz ali; porque havia glória a Deus ali. Porém, agora, o homem caiu, e desde o dia quando o querubim com a espada flamejante expulsou o homem dali, não havia tido nenhum paz na terra, salvo no peito de alguns crentes, que tinham obtido paz da viva fonte desta encarnação de Cristo. As guerras tem se levantado desde os confins do mundo; homens têm assassinado um ao outro, aos montes. Tem havido guerras dentro como bem guerras fora. A consciência tem lutado com o homem; Satanás tem atormentado o homem com pensamentos de pecado. Não tinha havido paz na terra desde a queda de Adão. Porém, agora, quando o recém-nascido Rei fez sua aparição, a faixa com a qual ele foi enrolado era a bandeira branca da paz. A manjedoura foi o lugar onde o tratado foi assinado, segundo o qual a guerra cessaria entre a consciência do homem e ele mesmo, entre a consciência do homem e seu Deus. Foi então, naquele dia, que a trombeta soou: “Embainhai a espada, oh homem, embainhai a espada, oh consciência, porque Deus esta agora em paz com o homem, e o homem em paz com Deus.”

Não sentis, meus irmãos, que o evangelho de Deus é paz para o homem ? Onde se pode achar paz, senão na mensagem de Jesus ? Vá legalista, trabalhe por paz com labor e dor, e tu nunca a encontrarás. Vá, tu, que confia na lei: vá tu, ao Sinai; contemple as chamas que Moisés viu, e encolha-se, e trema, e desespere-se; porque a paz não se encontra, senão nEle, de Quem é dito: “E este será a nossa paz”. E que paz é esta, amados ! Paz como um rio, e justiça como as ondas do mar. Esta é a paz de Deus que sobrepuja todo entendimento, que guarda nossos corações e mentes através de Jesus Cristo nosso Senhor. Esta sagrada paz entre a alma perdoada e Deus o perdoador; esta maravilhosa reconciliação entre o pecador e seu juiz, esta é a paz que os anjos cantaram ao dizerem: “paz na terra”.


3. E, então, eles sabiamente terminaram sua canção com a terceira nota. Eles disseram: “boa vontade para com os homens.” Os filósofos têm dito que Deus tem uma boa vontade para com os homens; mas eu nunca soube de qualquer homem que derivou muito conforto de sua afirmação filosófica. Os sábios têm concluído em conseqüência do que temos visto na criação, que Deus deve ter muita boa vontade para com os homens, se não Suas obras nunca teriam sido assim construídas para seu conforto; mas eu nunca ouvi de qualquer homem que pôde se atrever a descansar a paz de sua alma sobre uma esperança tão fraca como esta. Mas eu não tenho somente ouvido de milhares, senão que os conheço, que são completamente certos que Deus tem uma boa vontade para com os homens; e se você perguntar sua razão, eles darão uma completa e perfeita resposta. Eles dizem: Ele tem uma boa vontade para com os homens porque Ele deu Seu Filho. Não se pode dar maior prova da bondade entre o Criador e Suas criaturas do que quando o Criador deu Seu Filho Unigênito e bem amado Filho para morrer.

Embora a primeira nota seja Divina, e a segunda nota seja pacifica, esta terceira nota derrete mais meu coração. Alguns pensam de Deus como se Ele fosse um Ser carrancudo que odeia toda a humanidade. Alguns O representam como se Ele fosse alguma abstrata existência não tomando interesse em nossos assuntos. Escutai todos, Deus tem “boa vontade para com os homens”. Já sabeis o que significa boa vontade. Bem, Praguejador, você tem amaldiçoado Deus; Ele não tem executado Sua maldição sobre ti; Ele tem boa vontade para com você, apesar que você não tenha boa vontade para com Ele. Infiel, você tem pecado alto e gravemente contra o Altíssimo.; Ele não tem dito coisas duras contra você, porque Ele tem boa vontade para com os homens. Pobre pecador, tu tens quebrados Suas leis; tu tens quase medo de vir ao trono de Sua misericórdia para que Ele não te rejeite; escuta isto tu, e seja confortado – Deu tem boa vontade para com os homens, tão boa vontade que Ele tem dito, e diz isto com juramento também: “Vivo eu, diz o Senhor DEUS, que não tenho prazer na morte do ímpio, mas em que o ímpio se converta do seu caminho, e viva”; tão boa vontade além disso que Ele tem até condescendido para dizer: “Vinde então, e argüi-me, diz o SENHOR: ainda que os vossos pecados sejam como a escarlata, eles se tornarão brancos como a neve; ainda que sejam vermelhos como o carmesim, se tornarão como a branca lã.” E se você disser: “Senhor, como saberei que Tu tem boa vontade para comigo?”, Ele apontará para aquela manjedoura, e dirá: “Pecador, se Eu não tivesse boa vontade para contigo, haveria Me separado de Meu Filho ? Se Eu não tivesse boa vontade para com a raça humana, poderia ter dado Meu Filho para tornar-Se um daquela raça para que Ele pudesse redimi-los da morte ?” Vós, que duvidais do amor do Mestre, contemplai este círculo de anjos; vejam seu brilho de glória; ouçam seu canto, e deixem que suas dúvidas desapareçam naquela doce música e seja enterrada em uma mortalha de harmonia. Ele tem boa vontade para com os homens; Ele está disposto a perdoar; Ele afasta as iniqüidades, transgressões, e pecados. E marquem isto, se Satanás depois adicionar: “Mas embora Deus tenha boa vontade, todavia Ele não pode violar Sua justiça, portanto Sua misericórdia pode ser ineficaz, e você pode morrer”; então escutem a primeira nota da canção: “Glória a Deus nas alturas”, e repliquem a Satanás e a todas suas tentações, que quando Deus mostra boa vontade para com o arrependido pecador, não há somente paz no coração do pecador, senão que isto traz glória a cada atributo de Deus, e assim Ele pode ser justo, e todavia justificar o pecador, e glorificar a Si mesmo.

Eu não pretendo dizer que apresentei todas as instruções contidas nestas três sentenças, mas posso talvez ter dirigido vocês ao fio de pensamento que poderá servir para vocês durante a semana. Espero que todos durante a semana tenha um verdadeiramente feliz Natal por sentir o poder daquelas palavras, e conhecendo a unção delas: “Glória a Deus nas alturas, Paz na terra, boa vontade para com os homens.”

II . Em seguida, vos apresentarei alguns PENSAMENTOS EMOCIONAIS. Amigos, não enche este verso, este cântico dos anjos, vosso coração com felicidade? Quando o leio, e encontro os anjos o cantando, penso comigo mesmo: “Então, se os anjos introduziram solenemente o grande assunto do evangelho com cântico, não deveria eu pregar com cântico? E não deveria meus ouvintes viver com cânticos? Não deveriam seus corações serem alegres e seus espíritos se regozijarem?” Bem, penso, há alguns religiosos melancólicos que nasceram numa noite escura de Dezembro, que pensam que um sorriso sobre a face é ímpio, e crêem que um Cristão ser alegre e se regozijar é ser inconsistente. Ah! Eu queria que estes cavalheiros tivessem visto os anjos quando eles cantavam sobre Cristo; porque os anjos cantaram sobre o seu nascimento, embora este não fosse relacionado com eles; certamente os homens devem cantar sobre ele enquanto viverem, cantar sobre ele quando morrerem, e cantar sobre ele quando viverem no céu para sempre. Eu desejo ver no meio da igreja mais e mais um Cristianismo que canta. Os últimos anos têm gerado em nosso meio um Cristianismo grunhido e incrédulo. Agora, não duvido de sua sinceridade, mas duvido de seu caráter saudável. Digo que ele pode ser verdade e real o suficiente; Deus não permita que eu diga uma palavra contra a sinceridade daqueles que o praticam; mas é uma religião doentia. Watts acertou o ponto quando disse,

"A religião nunca foi designada
Para fazer nosso prazeres menores”.


Ela foi designada para abolir alguns de nossos prazeres, mas ela nos dá muito mais, para compensar o que ela tirou; assim, não os faz menores. Oh vós que vedes em Cristo nada senão um assunto para estimular vossas dúvidas e fazer com que as lágrimas desçam vossas faces; Oh vós que sempre dizeis,

“Senhor, que terra miserável é esta,
Que não nos produz suprimento,”

Venham vós até aqui e vede os anjos. Eles contam a sua história com gemidos, choros e suspiros? Ah não; eles clamam em alta voz: “Glória a Deus nas alturas”. Agora, imitai-os, meus queridos irmãos. Se sois professos da religião, tentai sempre ter uma apresentação alegre. Que outros fiquem de luto; mas

“Por que deveriam os filhos de um rei
Ficarem de luto todos os seus dias?”

Unge sua cabeça e lave o seu rosto; não aparente aos homens jejuar. Regozijai no Senhor sempre, e outra vez vos digo: regozijai. Especialmente esta semana não se envergonhem de estarem alegres. Não precisa pensar que é uma coisa ímpia ser feliz. Penitência, flagelação e miséria não são coisas muito virtuosas, apesar de tudo. Os condenados são miseráveis; que os salvos sejam felizes. Porque você deveria sustentar uma comunhão com os perdidos, pelos sentimentos de perpétuo luto? Porque não antecipar antes as alegrias do céu, e começar a cantar na terra aquele cântico que você nunca precisará terminar? A primeira emoção, então, que devemos cultivar em nossos corações é a emoção de alegria e satisfação. Bem, e qual a próxima? Outra emoção é aquela de confidência. Não estou seguro de que esteja certo em chamar isto de emoção, mas em mim ela está tão relacionada com a emoção, que me aventurarei a estar errado se estiver. Agora, se quando Cristo veio para este terra Deus tivesse enviado algumas criaturas pretas do céu, (se houvesse tais criaturas ali) para nos dizer: “ Glória a Deus nas alturas, Paz na terra, boa vontade para com os homens ”, e se com um olhar carrancudo e uma língua gaguejante eles entregassem sua mensagem, se eu estivesse lá e ouvisse, recearia em crer neles, porque certamente deveria dizer: “Vocês não se parecem com os mensageiros que Deus enviaria – indivíduos gaguejantes como vocês – com tais boas novas como esta”. Mas quando os anjos vieram não houve dúvida da verdade que eles disseram, porque era absolutamente certo que os anjos criam nela; eles a contaram como deveriam ter contado, porque a contaram com cântico, com alegria e satisfação. Se algum amigo, tendo ouvido que um legado te foi deixado, viesse a você com um semblante solene e uma língua como um sino de funeral, dizendo, “Você sabe que alguém te deixou £ 10.000?”, certamente você diria, “Ah! Eu cuido que sim”, e riria em sua face. Mas se tu irmão repentinamente invadisse o seu quarto, e exclamasse, “O que você acha? Você é um homem rico; Alguém te deixou £ 10.000!”, certamente você diria, “Penso que isto provavelmente é verdade, porque ele parece muito feliz”. Bem, quando os anjos vieram do céu, eles contaram as boas novas da mesma forma como eles criam nelas; e embora eu tenha freqüentemente duvidado da boa vontade do meu Senhor, penso que nunca poderia duvidar disso enquanto ouvir aqueles anjos cantando. Não, devo dizer: “Os próprios mensageiros são provas da verdade, porque parece que eles a ouviram dos lábios de Deus; eles não duvidam dela; porque vejo quão alegremente eles contam as novas”. Agora, pobre alma, tu que és receosa de que Deus te destrua, e tu que pensas que Deus nunca terá misericórdia de ti, olhai para os anjos cantando e duvide se tiver coragem. Não vá à sinagoga de tristes hipócritas para ouvir o ministro que pregar com um som nasal fanhoso, como miséria em sua face, enquanto te diz que Deus tem boa vontade para com os homens; eu sei que não desejar crer no que ele diz, porque não prega com alegria em seu semblante; ele está te contando boas novas com um rosnar, e você não está disposto a recebê-la. Mas vá imediatamente à campina onde os pastores de Belém estavam sentados de noite, e quando ouvir os anjos cantando o evangelho, pela graça de Deus sobre você, poderás ver que eles manifestadamente sentem a preciosidade do conto. Bendito Natal, que traz tais criaturas como os anjos para confirmar nossa fé na boa vontade de Deus para com os homens.

III. Eu devo trazer agora diante de vocês, o terceiro ponto. Há algumas EXPRESSÕES PROFÉTICAS contidas nestas palavras. Os anjos cantaram “Glória a Deus nas alturas, Paz na terra, boa vontade para com os homens”. Porém, olho ao redor, e o que vejo no mundo inteiro? Não vejo a Deus honrado. Vejo os pagãos ajoelhando-se diante de seus ídolos; noto os Romanistas se lançando diante dos trapos pobres de suas relíquias, e das horríveis figuras de suas imagens. Olho ao redor de mim, e vejo a tirania se assenhorear dos corpos e almas dos homens; vejo a Deus esquecido; vejo uma raça mundana em busca de Mamom; vejo uma raça sangrenta em busca de Moloque; vejo a ambição cavalgando como Ninrode sobre a terra, Deus esquecido, Seu nome desonrado.

Foi sobre isto tudo que os anjos cantaram? Foi tudo isto que os fez cantar “Glória a Deus nas alturas?” Ah! Não. Há dias brilhantes se aproximando. Eles cantaram: “Paz na terra”. Mas ainda ouço o clarim de guerra; e o horrendo estampido do canhão: ainda não trocaram a espada por rédeas de arado e as lanças por podadeiras! As guerras ainda reinam. Foi sobre isto tudo que os anjos cantaram? E enquanto vejo guerras até o fim a terra, creio que isto foi tudo o que os anjos esperavam? Ah! Não, irmãos; o cântico dos anjos está cheio de profecia; o dia determinado nascerá com glórias. Uns poucos anos mais, e quem os viver, verá o porque os anjos cantaram; uns poucos anos mais, e o que há de vir virá, e não tardará. Cristo o Senhor virá novamente, e quando vier derrubará os ídolos de seus tronos; aniquilará toda forma de heresia e todo vestígio de idolatria; reinará de pólo a pólo com ilimitável governo; reinará quando, como um pergaminho, aqueles céus azul tiverem passado. Nenhuma discórdia afetará o reino do Messias, nenhum sangue será então derramado; eles lançarão fora os imprestáveis capacetes, e não mais estudarão para a guerra. A hora está se aproximando de quando o templo de Janus [1] será fechado para sempre, e quando o cruel Marte será vaiado da terra. O dia está chegando quando o leão comerá palha com o boi, quando o leopardo deitará com a criança; quando a criança desmamada colocará sua mão na cova do basilisco e brincará com a áspide. A hora se aproxima; os primeiros raios de luz fazem feliz a era na qual vivemos. Olhai, Ele vem, com trombetas e com nuvens de glória; virá quem aguardamos com jubilosa esperança, cuja vinda será glória para os Seus redimidos, e confusão para os Seus inimigos. Ah!, irmãos, quando os anjos cantaram esta canção, ressoou um eco através dos corredores de um glorioso porvir. Este eco foi

"Aleluia! Cristo o Senhor
Deus Onipotente reinará”.

Ah, e sem dúvida os anjos ouviram pela fé a complementação da canção,

"Ouvi! o som de júbilo
Ruidosos como poderosos rugidos de trovão,
Ou como o enchimento do mar,
Quando quebra sobre a costa da praia”.


"Cristo o Senhor Deus Onipotente reinará”.

IV. Agora, tenho apenas mais uma lição para vocês, e terminarei. Esta lição é PRECEPTIVA . Desejo que todos que guardam o Natal este ano, o guardem como os anjos o guardaram. Há muitas pessoas que, quando falam sobre guardar o Natal, querem dizer a redução das vendas de sua religião por um dia no ano, como se Cristo fosse o Senhor da anarquia, como se o nascimento de Cristo devesse ser celebrado como as orgias de Baco. Há algumas pessoas muito religiosas, que no Natal nunca esquecerão de ir à igreja pela manhã; eles crêem que o Natal seja quase tão santo como o Domingo, porque eles reverenciam as tradições dos antigos. Todavia, o modo como gastam o resto do dia é mui excelente; porque se eles verem a sua cama imediatamente no começo da noite, terá sido por acidente. Eles não consideram que terão guardado o Natal de uma maneira apropriada, se não caírem na glutonaria e na bebedice. Há muitos que pensam que o Natal possivelmente não será guardado, exceto se houver grandes gritos felicidade e alegria na casa, e adicionados aos barulhos do pecado. Agora, meus irmãos, embora sejamos como sucessores dos Puritanos, não guardaremos o dia em qualquer sentido religioso, seja qual for, não adicionando nada mais a ele do que a qualquer outro dia: crendo que todo dia pode ser um Natal porque devemos saber, e desejarmos fazer de cada dia Natal, se pudermos; todavia, devemos tentar ser um exemplo para os outros de como se comportar neste dia; e especialmente visto que os anjos deram glória a Deus: façamos o mesmo. Uma vez mais os anjos disseram: “Paz para os homens”: labutemos se podemos fazer paz no próximo dia de Natal. Agora, cavalheiros idosos, vocês não abandonarão teu filho: ele te ofendeu. Trazei-o ao Natal. “Paz na terra”; vocês sabem: este é o Coral do Natal. Façam as pazes na sua família. Agora, irmãos, façam um voto de que nunca falarão de teu irmão novamente. Vá atrás dele e diga: “Oh, meu querido companheiro, não se ponha o sol deste dia sobre nossa ira”. Traga-o, e dê-lhe sua mão. Agora, Sr. Comerciante, você tem um oponente no comércio, e você tem dito algumas palavras mui duras sobre ele ultimamente. Você não consideraria o assunto hoje, ou amanhã, ou assim que puder, todavia, faça-o neste dia. Este é o modo de se guardar o Natal, paz sobre a terra e glória a Deus. E oh, se tu tens algo sobre tua consciência, qualquer coisa que te impeça de ter paz de mente, guarde teu Natal em teu quarto, orando a Deus para te dar paz; porque é paz sobre a terra, mente, paz em ti mesmo, paz contigo mesmo, paz com teu companheiro, paz com teu Deus. E não penseis que tens celebrado bem este dia até que possas cantar, “Oh Deus,

'”Com o mundo, comigo, e contigo
Eu agora durmo em paz, e assim para sempre será”.

E quando o Senhor Jesus se tornar tua paz, lembre-se, há outra coisa, boa vontade para com os homens. Não tente guardar o Natal sem ter uma boa vontade para com os homens. Você é um cavalheiro, e tem serventes. Bem, tente e coloque fogo em suas lareiras com uma larga pedaço de uma boa e sólida carne bovina para eles. Se você é um homem de riquezas, você tem pobres em sua vizinhança. Encontre algo com que vestir o nu, e alimentai o faminto, e alegrai o enlutado. Lembre-se, isto é boa vontade para com os homens. Teste, se puder, mostrar-lhes boa vontade nesta época especial; e se assim fizer, o pobre dirá comigo, que deveras eles desejariam que houvesse seis Natais no ano.

Que cada um de nós saia deste lugar determinados, que se estivemos irados durante todo o ano que se passou, que esta próxima semana seja uma exceção; que se temos resmungado de todo mundo no ano passado, que neste Natal aspiremos ser gentilmente amorosos para com os outros; e se vocês viveram todo este ano em inimizade contra Deus, oro para que pelo Seu Espírito Ele possa esta semana lhes dar paz com Ele; e então, deveras, meu irmão, este será o Natal mais agradável que já tivemos em nossas vidas. Vocês estão indo para a casa de seus pais, jovens; muitos de vocês estão indo fazer compras para suas casas. Lembrem-se do que preguei no último Natal. Vão para casa, para os teus amigos, e lhes o que o Senhor tem feito por vossas almas, e isto fará uma bendita roda de histórias ao redor do fogo do Natal. Se cada de um vós disser aos vossos pais como o Senhor se encontrou com vocês na casa de oração; como, quando você saiu de casa, estava alegre, corajoso, mas tem agora voltamos para o Deus de sua mãe, e lido a Bíblia de seu pai. Oh, que Natal feliz será este! O que mais direi? Possa Deus vos dar paz contigo mesmos; possa Ele vos dar boa vontade para com todos os vossos amigos, vossos inimigos, e vossos vizinhos; e possa Ele vos dar graça para dar glória a Deus nas alturas. Não direi nada mais, exceto ao final deste sermão desejar que cada um de vós, quando o dia chegar, tenham o Natal mais feliz em vossas vidas.

"Agora, com os anjos ao redor do trono,
Querubim e Serafim,
E com a igreja, que ainda é uma,
Cantemos o solene hino;
Glória ao grande EU SOU!
Glória ao Cordeiro Vitimado.

Bendição, honra, glória, poder,
E domínio infinito, ao Pai de nosso Senhor,
Ao Espírito e à Palavra;
Como era antes de todos os mundos existirem,
É, e será para sempre eternamente”.

Nota do tradutor: deus romano de duas faces identificado com portas e começos.


Traduzido por FELIPE SABINO ARAUJO NETO

FONTE : MONERGISMO